quarta-feira, setembro 24, 2008





    Travessura
    Era o tempo da Ditadura.
    Havia dois agentes reconhecidos da PIDE (polícia internacional para defesa do estado, treinada por agentes da Gestapo)... Um era o Bolas, outro o Cabide.
    O primeiro era professor de francês, enorme, passava os intervalos a devorar bolas de Berlim (bolos fritos)
    Um dia entrou numa aula do 4º ano, meninos que tinham soletrado o francês três anos a fio, e perguntou:
    - "Comment fait le burr?"... Queria informações acerca da voz do burro (âne)... toda a sala estremeceu de gargalhadas!
    O Cabide era contínuo.
    Um perseguidor implacável e mesquinho, esqueleto vivo donde pendiam as ombreiras do casaco assertoado.
    Um dia, em plena aula, em que se desfazia em mesuras diante da S'tora (era como tratávamos a professora, abreviando Senhora Doutora)... eu, nas carteiras da frente, enjoada com tais maneirismos, deitei-lhe a língua de fora.
    A S'tora viu!
    - Maria: Rua!
    Ai que baque no peito!
    Enfiei-me na casa de banho, ajoelhei-me a rezar até tocar a sirene, apavorada: Se tiver falta por mau comportamento o meu pai mata-me!
    Não tive falta.
    Já constava que eu tinha problemas em casa e, afinal, ninguém gostava do Cabide nem um bocadinho!
    Se calhar a S'tora também tinha vontade de lhe deitar a língua de fora!